Hoje vamos falar um pouco sobre a gravidez no Canadá. Mas pode se acalmar que não é a Giovanna que está grávida não! Meu nome é Raíssa, estou grávida e vou compartilhar um pouco das minhas impressões com vocês nesse texto.
Meu marido, minha filha e eu viemos para o Canadá como Residentes Permanentes agora em 2019. Nós utilizamos esse blog maravilhoso para planejar nossa imigração, estudamos cada post do Casal Nerd no Canadá como se custasse nosso futuro. E custava mesmo! Hoje moramos em Victoria, aqui em British Columbia, e estamos grávidos!
Lógico que assim como morar no Canadá tem muitas diferenças de morar no Brasil, estar grávida aqui também é bem diferente! Vou compartilhar mais com vocês em dois posts que vão ser publicados aqui. Essa é a parte 1 sobre a minha gravidez e as minhas impressões até agora.
Planejamento
Assim como vir para o Canadá exigiu planejamento meticuloso, a chegada de um filho é uma mudança de vida tão grandiosa que não poderia ser diferente.
E embora nem sempre as coisas saiam como planejadas, seja no Plano Canadá ou qualquer outro, a gente não deixa de planejar, né?!
A vontade de engravidar já era bem anterior à nossa vinda para o Canadá. Porém, a gente resistia porque entendíamos que não era a hora. O foco naquele momento era o Plano Canadá. Apenas quando chegamos aqui, em 26 de fevereiro de 2019, pudemos dar início ao Plano Bebê #2.
Aquela força da avó
Agora só para explicar o porquê de precisarmos de tanto planejamento: já temos uma filha de 3 anos. A questão é que ao chegarmos não teríamos cuidadores para nossa filha. Por isso minha mãe veio conosco para o Canadá com visto de turista para dar uma força nesse recomeço.
Sabiamos que para conseguir a licença maternidade, eu precisava trabalhar full-time. Não daria para ficar em casa cuidando dela. Então precisávamos de childcare para eu poder trabalhar full-time e minha mãe voltar ao Brasil.
Estávamos procurando algum local que ficasse no caminho do trabalho de um dos dois. Afinal, como novos imigrantes não temos carro! Não seria prático pegar um local distante. Mas as 3 pré-escolas que encontramos não estavam disponíveis!
As vagas para o ano letivo que iniciaria em setembro já haviam sido encerradas em fevereiro. #seplanejemgalera Em uma delas até a lista de espera estava lotada! Possivelmente encontraríamos vagas em Home Childcares – creches em lares.
Nunca consideramos deixar nossa filha 9 horas por dia em uma home childcare por acharmos que, por mais que seja licenciado, o lar de alguém é muito pessoal.
Além disso, deixar nossa filha na casa de uma pessoa física, sem treinamento formal para lidar com crianças que não falam inglês não era uma opção que nos deixava tranquilos.
Talvez a gente mude de idea, temos esse pensamento por ignorância mesmo, baseada na única Home Childcare que vimos próxima a nossa casa – e não gostamos.
Então ficou combinado que minha mãe que já estava aqui, ficaria cuidando da nossa filha nesse período de trabalho full-time meu.
Licença maternidade – como funciona aqui?
Antes de engravidar, demos uma lida sobre licença maternidade. Para ser elegível, é necessário ter somado 600 horas de trabalho ao longo do ano anterior à entrada na licença. Você pode ver mais detalhes sobre maternity leave e parental leave no site do governo da sua província. Algumas regras mudam de província para província. Aqui você pode ler sobre maternity leave em BC, que é onde moramos.
Outra questão que é diferente do Brasil e merece ser mencionada é que a remuneração durante a licença não é integral!!! Eles remuneram 55% da média das suas melhores 22 semanas trabalhadas no ano anterior. Algumas empresas podem pagar uma porcentagem maior. Novamente isso depende da província e do contrato com o empregador.
De acordo com essas regras, eu planejei trabalhar 22 semanas em tempo integral, enquanto minha mãe estava aqui. Assim conseguiria me certificar que estaria ganhando o máximo que eu poderia ganhar durante a licença maternidade.
Depois do retorno da minha mãe ao Brasil, eu já teria tanto as 22 semanas de um bom salário, quanto as 600 horas trabalhadas. Isso tudo contanto que eu entrasse de licença até 1 ano após o inicio dessas 22 semanas full-time.
E se você considerar que nesse período de 1 ano, 9 meses eu passaria grávida, eu teria em torno de 3 meses para engravidar garantindo o aproveitamento do meu salário full-time!
Spoiler Alert: conseguimos engravidar no limite – ufa!
Vitaminas e testes – se preparando para engravidar
Quem planeja engravidar sabe que 3-4 meses antes do positivo você precisa já estar tomando suplemento de ácido fólico. Eu já estava tomando desde antes de vir para o Canadá. Quando o que eu trouxe do Brasil acabou, comprei um complexo vitamínico pré e pós-natal no Walmart. Ele inclui ácido fólico, além de outras vitaminas e minerais.
Comprei também um teste de gravidez na Dollarama. SIM NA DOLLARAMA! HAHAHAH Tudo do mais baratex mesmo! Você pode até comprar dos mais caros que dizem qual semana de gestação em que você está. Mas para identificar o hormônio (HCG), honestamente qualquer teste serve. Até o da dollarama! #ficaadica
Todos tem 99% de precisão porque podem dar um falso negativo se você estiver com níveis muito baixos do hormônio. Isso significa que se você refizer no dia seguinte, já pode dar positivo. E após uma semana de atraso no ciclo, fiz o teste, tivemos nosso positivo! #gravidinha
Médico de família ou walk-in clinic?
O próximo passo seria buscar acompanhamento. A primeira coisa a ser feita é sempre informar seu médico de família (que a gente não tem), ou ir a uma Walk-in Clinic. Consultamos o site https://medimap.ca para ver o menor tempo de espera nas clínicas mais próximas. Ligamos para confirmar que ainda estava aquele tempo mesmo, e lá fomos nós. Depois de 20 minutos na sala de espera, nos chamaram.
O médico não era dos mais simpáticos. Perguntou o motivo da nossa ida, falei do teste de gravidez positivo. Ele me deu um potinho para eu colher nova amostra de urina. Ele realizou um teste igual ao que eu havia feito em casa e disse que sim, eu estava grávida. Sem nenhuma emoção ou “Parabéns!”.
Ele me instruiu a contactar uma midwife ou obstetra, mas só me deu o site das obstetras. Saímos de lá meio frustrados com a indiferença do médico.
Também achamos que aquela visita havia sido inútil, porque um site com a lista de obstetras, eu faço busca no Google e consigo rapidinho. Ainda bem que pelo menos não demorou.
Mas fica a dica: caso você descubra sua gravidez e não tenha médico de família: a ida a uma Walk-in Clinic é perfeitamente dispensável. #nemvai
Ele não vai te dar nenhuma informação, encaminhamento, nada mesmo. Não perca seu tempo. 😉
Midwife né?
Depois dessas decepção, fomos buscar um acompanhamento de verdade. Como o médico havia dito, poderíamos escolher uma obstetra ou uma midwife. E antes que você rejeite a ideia de ser acompanhada por uma midwife de imediato, é importante saber que é uma profissão regulamentada na maioria dos países de primeiro mundo. É uma possibilidade de acompanhamento que está em falta no Brasil. Mas é perfeitamente normal no Canadá, Estados Unidos, Europa, Oceania.
As midwives são profissionais treinadas extensivamente. Ah, e elas são integradas ao sistema de saúde. Elas são indicadas para o acompanhamento de mulheres saudáveis durante a gravidez normal, de baixo risco, para o parto e por cerca de seis semanas após o nascimento.
Elas trabalham em hospitais, clínicas e residências, em colaboração com médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, conforme necessário, para fornecer excelente atendimento. Elas estão de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana. As midwives tem autonomia de solicitar e interpretar todos os testes e ultrassonografias.
Além de oferecerem uma variedade de opções aos pacientes. Isso inclui a opção de parto domiciliar ou hospitalar para mulheres de baixo risco. Também inclui uma variedade de medidas de conforto no trabalho de parto, desde as medidas mais naturais de alívio da dor até o acesso à analgesia peridural.
As midwifes atendem as gestantes durante todo o trabalho de parto e nascimento. São especialistas em amamentação e fornecem suporte após o nascimento do bebê também. Eu diria que são o meio termo entre uma obstetra e uma doula, embora não substitua nem uma nem outra.
Eu queria né, mas…
Por tudo isso, minha primeira opção seria buscar uma midwife! Eu estava super animada e curiosa para ser acompanhada por uma midwife. Queria perceber as diferenças para o atendimento médico brasileiro.
Mas, vendo as clínicas de midwives mais próximas, eu só poderia marcar consulta por telefone, ligando de segunda a sexta entre 08h30 e 12h00! Ainda tentei marcar por e-mail, mas responderam que só por telefone mesmo.
Como nesse horário eu estava no trabalho, eu não me sentia confortável de pedir licença no meio do expediente para fazer uma ligação pessoal. Além do fato de que eu não tinha contado no trabalho ainda! Logo, eu teria que ligar da rua se não quisesse que ninguém escutasse.
Enfim. Resignada, abandonei a ideia após alguns dias. Isso porque comecei a sentir que estava perdendo tempo precioso, mas nem estava. Vocês vão entender depois! E aí comecei a ver as obstetras mais próximas.
Marcando a consulta com a Obstetra
Geralmente cada clínica possuia duas obstetras atendendo no local. Na primeira clínica que liguei, pedindo para marcar uma consulta, a atendente já me dispensou dizendo que não estavam recebendo pacientes novos para nenhuma das obstetras.
Na segunda clínica, umas das obstetras tinha se aposentado e a outra também não tinha vagas. Quatro obstetras indisponíveis! Comecei a entrar em desespero porque só haviam mais 6 para conseguir vaga! Então parei de verificar a localização e sai ligando na ordem que elas apareciam no site mesmo!
Na terceira ligação, e já na quinta médica, quando eu disse que queria marcar uma consulta, a atendente falou que não estavam recebendo novas pacientes a não ser que eu estivesse grávida. “Uai!” – eu disse para mim mesma – “Mas eu estou grávida!” – eu disse para ela.
Aí eu fiquei pensando, e se eu tivesse dito isso desde a primeira ligação? Se eu tivesse dito que estava grávida e por isso queria marcar uma consulta? Será que eu teria conseguido vaga nas outras clínicas?
Fica aí a dica para quando você for marcar a sua consulta. Avise logo de cara que está grávida! Talvez eles não recebiam pacientes novos como Family Doctors, e não para acompanhamento pré-natal. Não sei se seria isso, posso estar enganada. Se alguém tiver uma experiência relacionada a isso pode deixar nos comentários.
Tempo de gestação e data da consulta
Outra coisa que é diferente aqui é que eles só marcam consultas para depois de 8 semanas. No Brasil eu consegui me consultar, ver saco gestacional e tudo com 6 semanas. Aqui no Canadá não tem médico suficiente para acompanhar gestações que, infelizmente, não seguirão adiante.
Estima-se que após o resultado positivo, 1 em cada 4 gestações não se desenvolvem. E, em 85% dos casos, o aborto acontece justamente nessas primeiras semanas. Por ser algo tão comum e essas primeiras semanas não serem decisivas, eles simplesmente não pegam pacientes até terem mais certeza que a gravidez vai seguir adiante. Então quando você liga para agendar a consulta, eles perguntam sobre a última menstruação para calcular as semanas (6 semanas).
A consulta foi agendada para depois de completar as 8 semanas. Na ligação já fui informada que a primeira sessão duraria 45 minutos. E também que eu deveria chegar 20 minutos antes. Também foi pedido que se houvesse qualquer mudança na gravidez, eu ligasse desmarcando.
Como prometido, na véspera da consulta me ligaram (não pude atender). Eles deixaram mensagem de voz lembrando da consulta.
Eu nunca escutava mensagem de voz no Brasil, mas aqui eles usam esse recurso demais!!! Não deixem de escutar!
Consulta e ultra? Vou contar para vocês sim!
Agora tem BASTANTE diferença dessas primeiras consultas para o que aconteceu no Brasil. E como esse post já está enorme, no próximo post vou falar sobre as consultas e as ultrassonografias! Fiquem ligados!
E se quiserem acompanhar minha gravidez ao vivo, basta seguir a gente no instagram @canada_a_vista . Vejo vocês no próximo post!
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